domingo, junho 14, 2009

Migrei

Postar no blog tá difícil.

Não por falta de tempo, porque isso sempre é mentira. É porque eu perdi o interesse por escrever textos. Até penso neles, mas mudo de idéia antes de postar. Não vejo mais sentido em postá-los, por conseguinte também não vejo motivo em escrevê-los.

Migrei para o Twitter. Acho que me dou melhor com os 140 caracteres permitidos (sempre disse que gostava de textos curtos).


If you want, follow-me.
http://twitter.com/gutivis

PS - Não sigo ninguém que fique só poste relatos do seu cotidiano metidos a interessantes.

quarta-feira, dezembro 10, 2008

Identidade

Vivo tentando não ser quem eu pareço ser igual. Não me apetece nada que seja adorado por muitos. Na busca por diferenças, por vezes, acabo em me confundir das identidades e me torno tudo e todos de uma vez só. Não sei se confundo, não sei se sou distinto. Em busca de uma unicidade, posso me sentir solitário em meio a uma multidão, e sufocado numa sala vazia.

quarta-feira, outubro 08, 2008

Intolerante

Fui para o quarto, esperando a água ferver para o miojo. A panela do escorredor mecheu. Pensei ser minha irmã. A panela do escorredor mecheu de novo. Minha irmã não estava em casa. Voltei à cozinha para verificar. Nada. Mulheres pensariam ser um rato. Mulheres exotéricas julgariam ser um espírito atentando para alguma coisa. Minha tia surda não ia ouvir. Meu tio policial iria dar tiros no escorredor. Eu, peguei a panela e guardei no armário.

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Update
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Comecei a ficar com medo. Hoje, enquanto tomava banho ouvi um barulho de colher. Ao fim, encontrei uma colher daquelas grandes, estirada no meio da cozinha. Exatamente no meio.

domingo, setembro 21, 2008

Me Dá

- Tio, me dá?
- Não tenho.
-Tio, me dá?
- Não tenho.
- Tio, por favor, me dá?
- Dar o que?
- Um abraço, porque sou carente.

terça-feira, agosto 12, 2008

Newsletter

O Papo de Boca agora tem Newsletter. Sempre que eu postar algum texto, você poderá receber em seu e-mail. Bom pra preguiçoso. É só inserir seu e-mail aqui do lado ó ->

Pronto. Senta e espera.

domingo, agosto 03, 2008

Euforia

De repente me vi sozinho.
Desprovido de qualquer vontade.

E o que aconteceu com aquela força imbatível,
que agora há pouco corria por entre meu corpo?

Desaparece.
Sem medir nem pensar. Sem ouvir ou pestanejar.
Some sem deixar rastros, até voltar outra vez.

Até outra vez me dominar.

quarta-feira, julho 16, 2008

Dureza

Estou saindo. Saindo de onde já vim. Estou voltando. Sozinho, sem ninguém. Começou a chover. Não posso prosseguir. Uma corrida não adiantará. Vou me molhar muito. O dinheiro é pouco, estou com fome. Não vai dar pra comprar um guarda-chuva. Estou com fome. Só tenho isso.

Nada aqui, a chuva piorou. Não tem niguém pra me ajudar. Preciso ir p'ra casa. Não posso me molhar. Essa coisa tirana que não deixa ninguém sair. É a ditadura da natureza. Mas que belo dia era há pouco. O sol me fez vestir roupas leves. A chuva é esperta. Aparece quando a gente se descuida, e não vem protegido. É pior que qualquer coisa.

Meu estômago roncou. E essa chuva que não pára, é que eu não tenho guarda-chuva. Tenho que decidir. Ou como, ou molho. Ou sacio minha vontade, ou pego um resfriado. Não posso me adoentar. Há horas eu não como. Preciso ir p'ra casa. Estou atrasado e preciso fazer muitas coisas ainda hoje. Não tem jeito, alguém vai ter que esperar. Ou o meu estômago, ou quem me espera.

Já fiquei tanto tempo sem comer. Fome não mata. Não rápido assim. Em casa tenho comida, quando chegar eu como. Tem bastante comida. E sobremesa também.

Tenho que decidir logo, ou então fico com fome e molhado. Já sei quem vai esperar. Não tem jeito. É preferível.

Me dirijo à moça da banca, e peço o produto. Rápido, estou com pressa. Ótimo. Agora estou livre, ninguém me segura mais. Posso ir para casa. O lanche estava ótimo.

Comigo não tem essa, chuva. Pagou p'ra ver, paguei p'ra comer. Em casa me seco.

domingo, maio 04, 2008

Baianidades

- Ae man!
- Êa...
- Colé puta, fez o quê ontem?
- Vei, dei uns rolé no shops.
- Bala.
- E você putinha?
- Levei minha nêga no motel.
- Ah Puta! Se armou miserê!
- É... e cê tá na zinca né pai?
- Vassfudê viado...
- Dê mole não vú.
- Tô ligado.
- Quando uma mulé der mole derrube logo!
- Sei.
- Rapaz... miscute.
- Man, vá caçar um jegue, cara chato.
- Tá nervosinho, é?
- Nervosinho de cú é rôla.
- Lá ele.

*onomatopéia-de-sinal-de-elevador*

- É meu andar, falou.
- Falouviado.
- Oi?
- Nadanigrinha.

segunda-feira, abril 28, 2008

Passageiras Paixões

Ela chegou assim, do nada. A condução estava quase cheia. Mas havia outros lugares vazios. Ela sentou do meu lado. Pasmei. Geralmente, só bêbados sentam logo ao meu lado. Nãi sei porque. Meu desodorante é até cheirozinho, e meu perfume é importado - barato, mas importado. A mochila dela esbarrou em mim, estava cheia, não pediu desculpas, não foi nada. Estava ouvindo música, bem alto. Tão alto que eu soube que música era. Boa música. Olhei p'ra ela. Ela não me olhou. Observei de canto de olho. Mochila azul da company, sem muitos penduricalhos. Calça jeans, tênis, e casaco azul. Tirou o livro da bolsa. Li o nome design. Olhei mais um pouco. Short Cuts. O livro era inglês. Danada.

Chegou assim do meu lado, de mochila liberal, de roupa comum, com um livro de design, ouvindo música boa, e lendo em inglês. Linda. Como nunca vi. Não era magra, não era gorda. Era fofinha. Usava óculos. Me apaixonei.

É muito p'ra mim. Não consigo tirar o olho. Fiquei com medo dela se assustar. Era mentira. Só podia ser. Pensei em falar com ela. Não tive coragem. Nunca tenho. Só uma vez. Quis provar a mim mesmo que eu era capaz. E provei. Levantei-me e entreguei um papel com meu contato. Meu coração quase pula. Ela fez cara de indiferente. Tive coragem, mas não tive retorno. Eu poderia fazer de novo. Mas não fiz. Ela se levantou, e pelo lugar, e pela hora, e pelo livro, imagino com certeza o seu destino. Ela se foi. Perdi um amor.

E olha lá, aquela garota que está entrando. Linda. Sandália rasteira, saia longa e pulseira de corda. Perfeita, encantadora. Me apaixonei.

quinta-feira, abril 24, 2008

Incomoda sim! - Parte I

Ritinha, nascida no Pernambuco, criada no Ceará, e agora tentando a vida em Salvador, vive à procura de uma oportunidade. Um dia desses, ela estava no ônibus indo para uma entrevista de emprego. Leu muito antes, entrou na internet, pesquisou como se comportar na entrevista, como se vestir e tudo mais. No meio da viagem, embarcaram então, três pessoas estranhas. Aliás, duas. Usavam lenços na cabeça de forma que a cobrisse por todo, deixando à vista apenas o rosto. Este, era coberto quase pela metade por um óculos bem extravagante.
Uma delas, sentou-se do seu lado, e conversou com a outra que estava à frente. Ritinha, muito esperta, tentou ouvir a conversa, mas nada entendeu. Pensou que sentiu uma vertigem. Fazia muito calor. Ritnha se abanava com as mãos de modo a incomodar qualquer um. Fazendo sempre sons para demonstrar sua impaciência e insatisfação com a temperatura. Ficou intrigada com aquelas mulheres. Naquele calor intenso, as duas amarradas de lenços. Deve tá quente pro diaxo ali dentro, pensou Ritinha. E decidiu puxar uma conversa.

- Tá calor ai não mulher?
- Hum?
- Calor!
- What?
- Que uát...Tô perguntando se você não sente calor, com esses panos ai!
- I do not speak their language.
- É o que mulher?! Deixe de manha e me responda logo...
- I'm sorry, i can't understand.
- Gente, acuda aqui! Essa mulher tá engasgada com alguma coisa! Rápido!

Ela tentou tirar os lenços da senhora, pensando estar incomodando. Aquelas duas mulheres, se não percebeu, eram do Oriente Médio. De onde? Bom, não se sabe de que país, mas se soubesse não faria diferença. Se dizem africano é tudo igual, muçulmano também é.
Prosseguiu-se aquela confusão.

- Raálála´la´lrarrrálala...
- Ixi gente, socorre! A mulher vai morrer!

Muita gente se levantou para ajudar. Ritinha não desistiu. Os amigos muçulmanos também não. Um moleque, provavelmente viciado em televisão, gritou:

- O homem bomba vai explodir!

Pânico geral. Correria. Ritinha ainda resiste em puxar os lenços da pobre mulher. A multidão enfurecida descontrolada estava para destruir aquele ônibus.


Continua.