Vida Fatídica

Era um belo domingo. Chuvoso. Mendigos e bebados dormiam nas escadas. E, das poucas pessoas que passavam, metade achava que guarda-chuvas não fura olho, metade fazia de propósito. Algo distraia Lineu. Seios balançavam às corridinhas.
Ao meio do dia, Lineu volta do trabalho, cansado e sem esperança pro próximo dia, ele ainda não recebeu o salário. Está com pressa, passa todas as pessoas como um motoboy na avenida.
Não percebe o olhar malicioso de um indivíduo à sua cola.

- Passa o real, pivete!
- Pivete?!
- Passa!
- Eu não tenho dinheiro.

"Sagaz", Lineu aperta os passos inutilmente para despistar o bandido. Não sabendo ele que o bandido tem pernas. Ele insiste, mas não desiste. Ainda está longe do ponto do ônibus.

- "Mêrmão!" Passa o "diêru"! Senão vai tomar um tiro na cabeça!

Lineu dá seu golpe de miséricordia. Tira a carteira, vazia como sempre, e a arregaça nas vistas do rapaz. Berrando:

- Eu não tenho dinheiro!
- Calma! Abaixa isso ai...Você quer me prender? - Diz o rapaz, sentindo-se atingido.
- É foda! - murmurou.
- O que?
- Imagina! Eu quero ver você preso? Como assim? Porque eu faria isto?!

Toca o despertador.

- Lineu! Vai trabalhar! - reclama sua mãe.

Era domingo.